sábado, 31 de maio de 2008

Impressões VI

(imagem: aletp.com)

Está bem meu amor, farei como quiseres
Dou de beber à dor, mel puro só duas colheres
Umas gotinhas de limão, uns suspiros de ocasião
Óleo de amêndoas doces, massajo-me como se tu fosses
Nu, espero que passe o tempo que nos separa do enlace
Arrefeço a cada instante, sinto-te tão perto e espero-te distante.



Joaquim Marques

sexta-feira, 30 de maio de 2008

livro III Poema 34

Liberdade no deserto
Prisão no tempo do tempo incerto.

Dez anos não é muito tempo
Mas percorrê-lo, encarcerado, foi um tormento
Suportar a liberdade preso ao pensamento
Dói, mói, e já não aguento
Libertar-me das mossas do tempo.

Rosa Vermelha que desabrochaste no meu deserto
Perfuma a minha existência antes do finar que tenho certo.
Reinvento-me beija flor, mil movimentos por segundo
Para quedar preso à tua frente qual Lua presa ao teu Mundo.

Joaquim Marques

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Esperança



Deste modo inundas o teu quarto,
a nossa sala,
o nosso Presente unido,
de musicalidade de sons que tocados
ecoarão no Futuro já construído.



Joaquim Marques

(imagem fábiosilveira.blogs.sapo.pt)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Livro III Poema 33

Sentirás um arrepio doce
na mensagem que transporta a pena de pavão
no rosto do desnorte que a tristeza abraçou
em ti, e em nós nos afastou. A energia na ponta da pena
debaixo do teu queixo, um sorriso deixo
e o teu coração zangado, mas meu, renasceu no brilho do olhar
ainda a lacrimejar agora de emoção, suspiras
é o alívio que se instala
zangaste-te comigo, mas eu não
dás-me a mão? És tão bonita, amanhã vai estar um dia tão bonito!

(dedico-o a ti, que não conheço, mas é como se conhecesse)

Joaquim Marques

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Impressões V

Zé povinho, Rafael Bordalo Pinheiro


O Sócrates aprendeu com a Manuela
Já lá vão seis anos de estagnação
Quer voltar a velha donzela
Mas a baixar os impostos diz não!

Ide bugiar os dois
Farinha do mesmo saco
Não contem comigo pois
Para vos dar mais cavaco.

E o Cavaco o que anda a fazer?
Tanta esperança, tanta treta
O povo deve mesmo merecer
Ouvir da mesma historieta.

Sociais Democratas e Socialistas
São todos da mesma laia
Populares, Comunistas e Bloquistas
Votar neles é o mesmo que levar areia prá praia.

Quem se irá governar agora serei eu
Eu e muitas centenas de milhar
Não vou mais deixar roubar o que é meu
Nem nas eleições vou votar.
Joaquim Marques

Impressões IV




Ainda não chegou o carteiro
Será que trás com ele o dinheiro
Prometido pelo cliente caloteiro?


Joaquim Marques

Impressões III


Faz-nos tanta falta neste Mundo imediato
Um detergente eficaz contra a Incerteza
É uma nódoa diferente por não se ver
Mascara-se na cor do Presente
Mas tolda, turva, ofusca e perturba
O Futuro em cada um sonhado.
Joaquim Marques

Na hora do Ângelus

Maria, Senhora, Santa Mãe protectora
Rogai por ela, e pela mão da doutora.

Joaquim Marques

domingo, 25 de maio de 2008

Livro III Poema 32

Que significado tem para quem lê
A metáfora incrustada na linha da ideia
Nos fios de seda da teia
Escondidos entre estrofes, o que o meu fígado vê?

É suco biliar, degradando a sacarose ingerida
Transformando de forma desmedida
A ternura romanesca da alma vazia
Que por estar saciada de ar puro, não quereria
Ser lida de outra forma que não a de estar cheia.
Mas sujeita-se o comerciante à opinião constante
De quem sorve uma taça de vinho como panaceia
Da solução de quem deduz o seu destino após ter caído na teia.

Mas é assim, que ao ter-vos dado alforria
Não sou mais o senhor das trevas trovadas
E conformo-me arrepiado com relâmpagos e trovoadas
Que iluminam e queimam em sintonia
O significado transformado na interpretação de quem lê.
Enfim, mesmo assim, faço o gesto de vitória com os dedos em V!

Joaquim Marques

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Depois de ler o teu blog

É provável que daqui não saia nada
Que isto não passe de um simples exercício de dactilografia
Há quem lhe chame, hoje em dia,
Processador de texto
É tudo a mesma coisa, o que me interessa é o contexto
Em que o subordinado se submete
Seja lá pela razão que for,
Pois eu sou agora um escriturário
Deixando que a tua vontade me transforme num funcionário
E digito, sem erros, o que me vai saindo
Escrevo, escrevo, desaprovo-me neste enredo
Em que não sai dada de interesse.
Mas afinal o que importa?
Nem sempre tenho a alma comigo
Nos dias Santos ela vai orar para algum lado
E eu fico aqui sentado digitando como um desalmado.
Eu sem alma escrevo sem calma.

Joaquim Marques

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Indiferença

Falta de entusiasmo, de curiosidade, de paixão,
Insensibilidade, desinteresse, apatia, frieza,
Desprendimento, negligência, inércia...

Dicionário

terça-feira, 20 de maio de 2008

Livro III Poema 31

De que me serve ser detentor
Duma enorme tristeza?
Bastava-me uma pequena parcela
Do género duma quintinha entre vales
Repleta de árvores de folha caduca
Plátanos, carvalhos e castanheiros
Penedos cobertos permanentemente de musgo
Líquenes e cogumelos sempre a desabrochar
Tudo envolvido num suave manto de névoa
Num perene inverno encoberto,
E sempre que me apetecesse ia lá passar uns dias.

A minha tristeza é tão grande, tão grande, que eu ando, ando...
Perco-me em círculos e nunca consigo chegar à estrema
Cansado, retorno ao meu abrigo de pedra
Acendo a lareira e no crepitar da labareda
Encontro-me contigo
No sonho da felicidade em que vives
São tão breves estes momentos de felicidade
Cada vez mais espaçados porque a lenha está a acabar
E poupado como sou só acendo o fogo raramente.


Joaquim Marques

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Livro III Poema 30

Haverá outra forma de encarar o novo dia
Que não seja sorrindo à tua presença
Mesmo que dissimulada na ausência
Do explicito sorrir que me habituaste?

A esperança no devir
A contínua forma que tenho de sorrir
A mim mesmo, sorrindo de olhos encharcados
Ao anúncio do meu devir mascarado
É a única forma que encontro de não desfalecer.

Fui construindo teias
Umas maiores, outras menores,
Outras refeitas
Outras contrafeitas
Sou uma aranha improvisada
Alimentando-me de insectos incautos
Que a uns sacia mas a mim deixam enjoado
Já tive sorte, agora já não caço
Limito-me a desfazer o embaraço
Que a teia que construía só o azar atraía...

Deve haver outra forma de encarar este novo dia
Nem que seja ver rosas em cima do telhado
Luas cheias reflectidas no meu lago
Os peixes púrpura caçando os gatos
Tudo em sublime desalinho....
Que Deus me ajude! Que Deus me ajude!

Joaquim Marques

sábado, 17 de maio de 2008

Livro III Poema 29

Hoje sou
Um poema sem palavras
Sem pontuação nem emoção.
.
.
.
.
.
.
.
.
Estás a ver o que me fizeste?
Esvaziaste-me!

Joaquim Marques

sexta-feira, 16 de maio de 2008

"Eu te proponho"

Amar só por amor
sem pedir nada em troca
sem dor.

Amar só por amar
sorrindo à felicidade alheia
mesmo que seja a cantar.

Joaquim Marques

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Titubeante

Rodo que rodo e torno a rodar
faça o que fizer aos teus braços vou parar
se paro e me quedo acho ainda muito cedo
se rodo tenho medo
de não te voltar a encontrar
é amor eu sei só o não sei arrogar.


Joaquim Marques

terça-feira, 13 de maio de 2008

Livro III Poema 28

Visita-me no meu peito
mesmo a despeito do
despeito
que se apoderou de ti
no meu peito
adubado e mondado
cresce um suave manto de musgo
para que ao pisar não te magoes.



Joaquim Marques

sábado, 10 de maio de 2008

Sermão de S. Joaquim aos peixes

Porque é que te identificas tanto com algumas frases escritas por outros? Tens preguiça de te identificares com os teus próprios pensamentos? Somos todos únicos, cada pensar, de cada um de nós, reflecte o nosso momento num determinado percurso pensante da vida. Investe na pesquisa do teu interior e o mundo ganhará muito com isso. Não tenhas receio de ser imodesto, falsas modéstias levam à mediocridade e à sujeição dos comuns mortais ao conceito de vida de alguns iluminados, que no escuro do seu pensar, transportando-o para a escrita, viram-se alvo dos holofotes dos outros que os tornaram, automaticamente, ídolos iluminados. E assim sem querer serem o que foram, tornaram-se referências. O que seria de Platão a receber mil euros/mês como filósofo bibliotecário da Torre do Tombo, nos tempos de hoje, se a sua empregada doméstica ganhasse 7,50 euros à hora? Seria como eu, e como tu, com a diferença de expressar na escrita o que pensa, sem dar importância às frases dos outros. Valoriza-te, não queiras ser um Platão, porque eu tenho a certeza que ele não quereria ser como tu, mas gostaria de ganhar tanto como uma empregada doméstica. Já reparaste que hoje ganha mais quem nada pensa?
Joaquim Marques

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Livro III Poema 27

Já não sinto nada
Nada
Já não sinto
Nada
Já não
Nada
Estou dormente
Dor da mente
Dor que mente
Já não sinto nada
Nada
Já não sinto
Nada
Já não sou
Nada
Convincente
Isso convicente, com o Vicente?!
Não, não foi com o Vicente
Nem convincente
Nem nada
Já nem sou nada
Nada
Já me sentes dormente?

Joaquim Marques

terça-feira, 6 de maio de 2008

Livro III Poema 26

Dizes que amas
Amas com amor?
Gosta simplesmente
Gosta com amor
É mais fácil e eterno e não causa dor.


Joaquim Marques

sábado, 3 de maio de 2008

Invertido

Creio, e gosto de acreditar em Deus para além do que me ensinaram
Como gosto de ouvir o noticiário apesar de não crer nos seus emissários
Como gosto de mim para além da figura quando me olho ao espelho
É enganador aquilo que nos querem fazer acreditar
Nas imagens espelhadas no Templo dos Mídia
É o invés
Eu creio, e gosto de acreditar que sou o inverso de mim.

Joaquim Marques

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Livro III Poema 25

Às vezes tenho vergonha de escrever
Mas gostava tanto de ser diferente
E descobri que não ser igual a toda a gente
É ser analfabeto, iletrado e tudo desconhecer.

Prolifera com a Internet, por todo o mundo
A abundância das oportunidades
É a democratização da feira das vaidades
Nos textos e linhas sobrepostas sem sentido profundo.

Eu tenho plena consciência
Que o que escrevo e o que penso
É lixo, e ninguém terá paciência

De os ler, muito menos de os copiar
Estes textos pobres que deixo em suspenso
Até que a lucidez me abençoe e deixe de os publicar.

Joaquim Marques