quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 9

Estendi a roupa na corda
olhei para o sol amigo, sorriu-me
retribuí
cinco enormes nuvens invejosas
uniram-se com cara feia
olhei para elas com desdém
pedi ao vento que viesse de mansinho
e veio, cortês afastou as nuvens.
Duas horas mais tarde
o sol foi deitar-se
o vento foi com ele
a roupa estava quase seca
a lua ainda não tinha aparecido,
hoje entrava ao serviço mais tarde
fiquei sem astros a quem recorrer
fui ler o boletim meteorológico:
chuvas só para depois de amanhã,
fortes como as da semana passada,
deixei a roupa ao cuidado da lua
fui dormir com o sol
ouvi barulho a meio da noite
chovia que Deus a dava,
era só um aguaceiro forte
a roupa na corda
eu na cama
o sol deitado e a lua em gazeta
as nuvens descarregaram a sua raiva
mas não me importei:
vou deixar ficar a roupa ali, na corda, a lavar com água celeste
de certeza que depois de amanhã vai fazer sol e vento
e o boletim meteorológico voltará a enganar-se
mas a mim não engana mais!

Joaquim Marques