quinta-feira, 3 de julho de 2008

Livro III Poema 46

Calcula tu, a visão de mim ali pendurado
terrível, esta visão do corpo enforcado
calcula o arrepio de sentir assim o corpo frio
calcula tão somente, é exercício cerebral, nada mais para além disso
imagina, como me imagino, nas conversas silenciosas com o absurdo
à falta de melhor interlocutor, converso com o meu interior
e este trasbordante de calor, arrepia
é assim que no absurdo do verão sinto frio, falta-me acção
hiberno nesta toca aguardando pelo calor da tua contestação:
mente fértil, cataratas que me tolhem a visão, aparências:
já me vieram desenforcar, a mulher a dias só fez reclamar:
tanto lixo produzido numa encenação irreal!
ó senhor Joaquim, se o meu filho quiser ser poeta dou-lhe uma sova!
Calcula tu, querem que eu seja sempre uma pessoa normal!


Joaquim Marques