terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 6

O que me inspira
na arte da escrita
é esta vontade maldita
de deitar cá para fora
aquele pensamento pendente
que me aperreia constantemente
quando quero ter uma vida normal.

Passeio várias vezes pelas margens do Tejo,
olho, quedo fico atento, obeservo e não te vejo
Musa inspiradora.
No Tejo não vejo a minha Senhora
nem consigo imaginar hoje a ninfa sedutora
que fez inspirar o Camões.
Penso então com os meus botões
porque escrevo poesia?!
Ou seja, estas linhas sobrepostas,
sem nexo, frases que mais parecem anedotas
quando tento imitar os outros
e ganhar um lugar ao lado dos demais:
Poetas normais!

É por isso que o que escrevo
não se classifica como poesia
é antes um alvoroço
de ideias que me sufocam o pescoço
e não me deixar conviver
com a vida comesinha que eu gostava de ter.

Porque tenho então que pensar,
porque me tenho que permanentemente aperriar,
e para não sufocar
escrever estas linhas soltas?
Valha-me alguém intemporal,
alguém que me faça ser um ser normal
e me deixe ficar à beira mar,
a ver as ondas do mar
nos dias de ventania,
e não ver poesia
nas ondas do mar calmo
nem cantar com mais ou menos mestria
a beleza da maresia
porque todos sabemos como ela faz mal.

Tenho a mente corroída
pelo sal desta maresia
que sopra dia após dia
deste mar bravo que se tornou a minha vida.

Joaquim Marques