sexta-feira, 16 de março de 2007

Este tipo é um tretas!

Contou-me, em surdina, uma personagem das minhas relações, a história que em seguida vou reproduzir.

Estávamos numa bela manhã duma solarenga sexta-feira de Março, no caos do trânsito de Lisboa, em pleno Marquês de Pombal, quando o nosso amigo JC, atarefado com o relógio e a pressa em voltar a ficar sem ter nada para fazer, visita uma das suas clientes. Entregou a encomenda, acrescentou charme bastante, e vai quando a amável cliente lhe pede para verificar um equipamento.
_ Sabe, senhor JC, diz a cliente, esta máquina chia por todos os lados.
_ JC: Não me diga, “menina”, que aborrecido!
Experimentou ele a máquina e chiava mais ainda nas suas mãos do que parecia nas mãos da adorável cliente. Estava o caldo entornado! Tanto charme jogado pró ralo do esgoto da indiferença da cliente. Maldita máquina!
_ JC: “Menina” por que não avisou que a máquina estava assim? Eu teria vindo preparado e já tinha resolvido o assunto. Agora só segunda-feira.
_ A cliente: Está bem senhor JC, isto aguenta até segunda-feira.
O nosso amigo, abalado pelo sorriso amarelo da cliente, compromete-se então a brevemente dar solução a tanta chiadeira. E saiu porta fora desejando um bom fim de semana. A cliente nem respondeu.
Já na rua, olhou para o relógio e viu que ainda só era meio-dia e pouco. Tinha executado todas as tarefas programadas, mas aquele sorriso amarelo da sua cliente não lhe saía da cabeça.
Deu-lhe a fome, atravessou a rua e entrou numa pastelaria. Pediu um sumo, uma Sandwich de panado de porco (havia também de peru) e um salgado. O empregado de balcão era tão solícito, deve ter tirado vinte valores na cadeira da simpatia, e dirigindo-se ao JC perguntou:
_ Está tudo do seu agrado?
O nosso amigo olhou para o empregado com os dentes no panado e o pensamento no sorriso amarelo da cliente e respondeu:
_ O Senhor disse que o panado era de fiambre?
_ Não, não ! É de porco, também havia de peru...
O JC, ardendo por dentro, usou o sumo para deglutir tanto pão e pensou em voz baixa:
_ Pois é, o fiambre também é feito de carne de porco. Nunca comi panado tão fino.
Pagou e saiu. Dirigiu-se ao carro, abriu a mala, tirou lá de dentro uma lata de óleo spray milagroso e voltou à sua cliente.
_ JC: “ Menina”, sou eu novamente, fui comprar esta latinha e vou já resolver a chiadeira da máquina.
A cliente, surpreendida, exclamou:
_ Ai, mas o senhor é excepcional! Só mesmo o senhor! Muito obrigada!
Duas esguichadas e acabou-se o pio da maldita máquina. O nosso amigo, de olhar altivo, e orgulho elevado, diz para a cliente:
_ “Menina”, agora já está resolvido, experimente lá, veja como está suave a sua máquina.
E ela experimentou, abriu um largo sorriso, e de olhar enternecido agradeceu:
_ Muito obrigada, só mesmo você! Isto é que é atendimento! Senhor JC, o senhor é encantador, mais uma vez muito obrigada.
O nosso amigo, de sorriso largo e brilhosinho nos olhos, dirige-se à porta acompanhado pela sua cliente que não parava de exclamar “bom fim-de-semana”; obrigada, “bom fim-de-semana”, obrigada!

Este tipo é mesmo um tretas!



Joaquim Marques
16 de Março de 2007

1 comentário:

Anónimo disse...

Não existe coisa melhor do que ser tratado bem por um vendedor....
Chego a pensar como é a vida dele...para tratar tão bem...
Se é casado ou solteiro....
O seu grau de instrução..e como alguém tão especial estaria ali...
Até a sua comissão é recompensada pelo fato de ter sido gentil....
Se tem a impressão que só existe você ...
É uma arte ,dom, sacerdócio lidar com pessoas...que estão tão voltadas para suas necessidades,vaidades, apenas querendo ser atendidas...e muitas vezes...nem um obrigada recebem...
Mulheres e homens que exercem essa profissão são heróis do exercício de terem de estar sempre bem ...anular toda a sua vida em prol de uma venda...em prol de seus clientes....
Santas pesssoas...srsrsr

Beijos meu gatinho..adoro vc...