quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entardecer

Pior que que a solidão de estar só
é a solidão de estar junto
viver a solidão em conjunto
vivendo a morte antes que a vida termine.
Coitados, morrem idosos em solidão
comenta o povo na sua razão
desconhecendo que a morte é um acto isolado
estar morto e acompanhado
acontece só em tragédias e execuções.

Fecho-me em casa
porque é aqui que te espero.
Amanhã é trinta de Janeiro
e eu, hoje, estou sem dinheiro
basta que passe mais um dia, só um
e será trinta e um
dias de silêncio na espera.

Não é um dia comum
alguém venha em meu auxílio
e me ajude a libertar da rima
quero vomitar no papel a falsa estima
e viver calmamente o anoitecer.

Não gosto de ler os outros
além de os não entender, tenho receio de com eles me parecer
não sou influenciável
sendo honesto, nem sempre sou agradável
e daí? é a forma que tenho de exprimir o meu engenho!

Não te conheço, Mari(?)a
mas é como se conhecesse
virá o tempo, ainda longínquo
que te terei ao meu colo
num simples abraço que me fará sair do ser solo
para depois poder morrer feliz.

Tirei um curso universitário
mas, tudo o que lá me ensinaram
foi ao contrário
do que queria, buscava e percebia
ser o meu caminho.
Conheci pessoas comuns que se fizeram colegas
conheci-os e desfiz-me em entregas
dádivas de amizade pura
tudo efémero como os dias
e desse tempo não sinto saudade
voltaria a fazer o mesmo? Não.

Sinto momentos felizes
quando me encontro comigo
 e venho transcrever para o papel o que só a mim digo.
Se há momentos, longos, que me assola o silêncio
agora, neste instante, sinto-o ruidosamente radioso
é por te ter em pensamento
a todo o instante.
Faço o meu cigarro manual
há muito que penso o que diz o meu vício
mas só hoje desfruto do início
do futuro longínquo de te ver
ao meu lado entardecer.

Cresci naquelas estepes africanas
e isso influenciou a minha escrita
horizontes a perder de vista salpicados por arbustos isolados
é assim que rimo as estrofes do meu presente passado
que o presente futuro só existe para além do muro
não estando coxo, não me apetece galgar.
Os dias sucedem-se, uns a seguir aos outros
e neles todos, como o de hoje, aforrei muito dinheiro
sendo como sou um caminheiro
descobri que a melhor forma de poupar
é não gastar. Só não gasta quem não tem
e não tento, forçosamente poupa
veste a mesma roupa, não havendo conduto haverá sempre sopa.
Está tudo resolvido, entardece e tarda ter-te esquecido
porque será, tanto tempo volvido?

Não prestas!
Penso em ti
nos teus últimos movimentos
e não prestas.
És fútil e inconsistente
tive em ti uma irmã
como um íman
atraí o teu negativo ao meu pólo positivo.
Não queres perder um amigo?
Primeiro ganha-o, depois cuida-o
depois nunca lhe peças mais do que te pode dar
estou aqui, no mesmo lugar
mantenho-me igual, desde sempre
desde que me senti a pensar
desde os treze anos a sonhar
no que o Mundo de bom se podia tornar:
Namacurra, a saudade de viver em paz
em cima daquelas mangueiras
das mangas verdes comidas com sal
das vezes que ia ao quintal
apanhar um abacaxi, uma tangerina
ó África, não sendo, serás sempre minha
excepto a irmã que nunca foi
mas eu fiz sem poder
porque quem ama, ama sempre a perder
para mais tarde ganhar
tardes de entardecer
dias que vão ficar escuros
noites alumiadas pelo clarão da explosão
dos átomos soltos pela existência
a nossa vida é sobrevivência
a luta uma constância
e a dádiva, dada de graça, a relevância.

Tenho um bico do fogão aceso
tenho receio de ficar obeso
mas não fico, mesmo que queira
pensar e escrever tanta asneira
é o que me faz falta nestes dias
tardes que tardam sempre tardias
noites que anoitecem devagar
insónias que me tolhem o discernimento
já é noite e penso em ti a todo o momento
penso-te noutro lugar
onde o mar vem e vai com a maré
e se tudo é cíclico, tudo será o que hoje já é
o ciclo do Universo, movimentos de rotação
de translação
só o destino dos vivos é ir de caixão.
Se me deixarem viver mil anos
a  morte não desejo, viajar é o meu ensejo
Até Marte
saberei encontrar-te lá, talvez em parte
outra parte de ti mora longe, noutra galáxia.
A noite vai ser fria
a memória do teu amor não me aquece o coração.

Joaquim Marques AC

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Descomprometido

Hoje sou o que penso que quero ser
amanhã serei o que nem sei
é sendo quem sou no presente que sou dum futuro ausente
sem planos, sem muitas preocupações da mente
hoje sou mais que um amigo
e muito menos que outra coisa qualquer.

Joaquim Marques AC

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Um dia vou a Guimarães ver-te em Braga por um canudo
vou ao Minho descobrir o teu ninho
vou beber-te fresca como o verde vinho
de longe, sem desalinho
discreto, como o teu smartphone mudo.

 Joaquim Maruqes AC

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O carinho e a admiração que te devoto
não se limita à existência actual
o ser humano, infelizmente, é mortal
ainda assim, se me fosse permitido voltar a nascer
e nessa premissa, me fosse permitido escolher
quereria muito ser teu filho.

Joaquim Marques AC