terça-feira, 24 de abril de 2012

Mãos cheias, mãos vazias
mãos quentes e frias
mãos suaves e ásperas
mãos mortas e firmes
mãos sujas e limpas
mãos pedidas e recusadas
mãos secas e suadas
mãos nojentas, mãos beijadas
mãos hábeis e atrapalhadas
mãos trémulas e apertadas
mãos abertas, mãos fechadas
mãos lidas e faladas
mãos rudes e de fada
mãos dadas... mãos dadas...

Joaquim Marques AC


segunda-feira, 23 de abril de 2012

o pior "poema"

Ando desinspirado
o que é bom
é quando a vida me corre melhor
sem preocupações existenciais
nem materiais
nem de outra espécie
por isso não devia escrever nada
mas, contraditório, agrido-me
agredindo os incautos que me procuram...

este não leva assinatura, pode ser roubado
editado, assinado, publicado
tal como todos os outros
e fiquem com os direitos de autor...
quero lá saber!

domingo, 15 de abril de 2012

O que faz um poeta normal às cinco da madrugada?
Dorme! É poeta, é normal, dorme!
E então, e os anormais? Os poetas anormais?!
Comem torradas com chocolate quente
a madrugada vai alta e fria
e o sono, hoje, fica para de dia.
É provável que o sol nasça e aqueça o tempo
e assim durmo mais quente.
Dormir, é coisa que faço quando me apetece
como comer torradas às cinco da madrugada
o que não me apetece é dizer mais nada
a não ser que, dumas frases sobrepostas
pode ser que ainda ganhe um prémio qualquer
sabe-se lá, hoje em dia, o que é mais popular
se falar do mundo a acordar
se acordar o mundo com o meu mastigar
torradas, bem torradas, quase esturricadas
ruídos que me despertaram
para o lirismo das coisas frívolas
estar quente
por causa do chocolate
ou por causa do trabalho do dente
o de baixo e o de cima, convergem na trituração
duma coitada torrada, vazia de imaginação.
Escrever sem nada ter a dizer
a mim, o principal destinatário do que vomito
sem saber porque mastigo o poema escrito
quando o normal é sair a jorro de bílis...
Mas, quem sabe, ao alvorecer
já esteja a adormecer
e me escape, mais uma vez, o arco íris.
E o Papa, será que, a esta hora, também dorme?
Não devia estar a rezar por mim? Não, claro que não!
Eu não preciso, faço tudo como ele, excepto rezar em italiano.
Aquele chocolate quente é mesmo um bacano
aqueceu-me até ao tutano
tanto, que o que me apetece agora, é água fria
a ver se trato melhor a poesia
deixar dormir o Papa em paz, não vá ele ficar com azia
e excomungar-me, por escrever sobre torradas numa noite fria.

Joaquim Marques AC


quinta-feira, 12 de abril de 2012

A uma poeta maior

Eu não quero ser distinguido
quero, antes de ter morrido,
ter na vida crescido

ir andando mais além
fazendo sempre o bem
já que o mal é hoje normal
tão comum, como comum é ser mortal

portanto Minha Senhora, D Maria João
as suas palavras tocaram-me o coração
valeu-me muito, até ontem, ter vivido
para poder, consigo, ter interagido.

Joaquim Marques AC

domingo, 1 de abril de 2012

Mentira

Desapareci do mapa
tapo-me com uma capa
por cima duma burka
quero-me invisível, desculpa
não quero que me vejas
que me saibas, ou prevejas
quero que tudo seja como dantes
antes de me saberes
de pensares em teres
os minutos da minha atenção
morri, fui operado ao coração
de peito aberto e muita transfusão
para receber dum doador
o prolongamento da vida sem dor
eu morri, quem vive em mim é o outro
entendes?
desapareci do mapa!

Joaquim Marques AC