domingo, 15 de abril de 2012

O que faz um poeta normal às cinco da madrugada?
Dorme! É poeta, é normal, dorme!
E então, e os anormais? Os poetas anormais?!
Comem torradas com chocolate quente
a madrugada vai alta e fria
e o sono, hoje, fica para de dia.
É provável que o sol nasça e aqueça o tempo
e assim durmo mais quente.
Dormir, é coisa que faço quando me apetece
como comer torradas às cinco da madrugada
o que não me apetece é dizer mais nada
a não ser que, dumas frases sobrepostas
pode ser que ainda ganhe um prémio qualquer
sabe-se lá, hoje em dia, o que é mais popular
se falar do mundo a acordar
se acordar o mundo com o meu mastigar
torradas, bem torradas, quase esturricadas
ruídos que me despertaram
para o lirismo das coisas frívolas
estar quente
por causa do chocolate
ou por causa do trabalho do dente
o de baixo e o de cima, convergem na trituração
duma coitada torrada, vazia de imaginação.
Escrever sem nada ter a dizer
a mim, o principal destinatário do que vomito
sem saber porque mastigo o poema escrito
quando o normal é sair a jorro de bílis...
Mas, quem sabe, ao alvorecer
já esteja a adormecer
e me escape, mais uma vez, o arco íris.
E o Papa, será que, a esta hora, também dorme?
Não devia estar a rezar por mim? Não, claro que não!
Eu não preciso, faço tudo como ele, excepto rezar em italiano.
Aquele chocolate quente é mesmo um bacano
aqueceu-me até ao tutano
tanto, que o que me apetece agora, é água fria
a ver se trato melhor a poesia
deixar dormir o Papa em paz, não vá ele ficar com azia
e excomungar-me, por escrever sobre torradas numa noite fria.

Joaquim Marques AC