terça-feira, 20 de setembro de 2011

Os óculos

Olho-me ao espelho
e não é a mim que eu vejo
será dos óculos?
Sem eles, sabendo quem sou
com a ajuda da memória
recordo-me numa outra história,
com eles, pareço-me ao meu avô
naquelas fotos do princípio do século.
Quando me passeio em espaços públicos
evito o sexo oposto que tenha os óculos posto.
O meu avô era bem parecido,
não usava lunetas
coitado, não viveu tempo bastante
mas, ainda assim, deixou descendência vasta
é por isso que não me aprecio ao espelho, de óculos
vejo melhor a realidade
mas, não sendo casto, desagrada-me a castidade
que, ao reflectir-se no espelho, reflecte a menor elasticidade
da pele das pálpebras destas noites pior dormidas
tendo-te ao meu lado em noites de amor fingidas.
O problema é certamente dos óculos, tiro-os ao deitar
vou passar a dormir com eles postos
pode ser que assim te veja, sinta e beije e ao acordar
quando ao espelho for espreitar
com ou sem óculos, me veja igual.
Se trazes em ti o elixir da juventude
porque me fazes passar por tanta inquietude?


Joaquim Marques A.C.