sábado, 22 de maio de 2010

Fragilidade

Ao ter entregue nas tuas mãos
a minha fragilidade,
entreguei as chaves do meu cofre forte.
Só há uma chave,
só existe este cofre,
só tu conheces o segredo.
Sou teu,
não no momento em que te beijo,
ou que faço amor contigo,
ou que te presenteio,
ou que te surpreendo com um sorriso.
Sou teu quando choro.
Sou de quem eu confio a minha fragilidade.

Joaquim Marques

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sou

Sou como um pêndulo
Igual ao do carrilhão da minha avó
Para lá e para cá
Para cá e para lá...
E no preciso momento
Naquele segmento de tempo
Que medeia o vaivém
É precisamente ali que sou alguém.
Não sou nem triste nem alegre
Nem forte nem fraco
Nem mau nem bom
Nem fiel nem infiel
Nem presente nem ausente
Não estou nem cá nem lá
Estou ali, no meio, naquele instante.
Às vezes paro ali no tempo
Até que um impulso externo
Me devolve o movimento.
E assim levo a vida:
Atribulada na ida
Serena na volta.


Joaquim Marques

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Saga

Quantas vezes se me esgotam as palavras
no reservatório onde penso que as guardo
nos momentos de deslumbramento genuíno
perante a saga que foi essa tua batalha contra o destino.

Quantas vezes, como a de agora
em que me socorro da nascente cálida
do meu lençol de fluidos subterrâneo
que se cruza com a chaminé de lava
do vulcão em constante erupção
neste profundo oceano de água fria
onde navego, solitário, dia após dia.

Que será de mim, pequeno pássaro azul,
aspirante a escriba de mim mesmo
sem as palavras que te quero deixar
como um afago, um cantar embevecido,
pela grandeza do teu ser no teu tempo sofrido.

Apelo à inspiração do fundo,
aquela que se revela quando quer,
que excepcionalmente nesta hora
me socorra, porque cá dentro dói e chora
um adulto com vontade de voltar a nascer,
ou se isso for pedir muito, deixar fluir os dias
e ao teu lado um dia morrer.

Joaquim Marques

terça-feira, 4 de maio de 2010

Amar só por Amor

O meu sentimento por ti
É tão grande, imenso, eterno
Que não o consigo matar.
Se há verdadeiro amor
Esta sim é a verdadeira forma de amar
Amar o que já amei
Amar-te na minha lembrança
De ti mulher adulta
Que te quis amar como se ama uma criança.

E amarei eternamente
O bom da tua pessoa
Porque sinto que amar-te desta maneira
Mesmo que o meu coração doa
É querer-te mais, e mais certamente
Que o poder do germinar da sementeira.

Um dia a semente deste amor
Dará flor
A flor da esperança
Que os tempos de bonança
Te tragam a felicidade
Livre dos sentimentos de maldade
Que são a mágoa, o rancor e a vingança.

Porque agora amar-te só me apraz
Se amar for querer-te bem
E desejar-te feliz e em paz
Sozinha ou com outro alguém.

Joaquim Marques

domingo, 2 de maio de 2010

POEMAS

Poemas que faço
Poemas que desfaço
Com a face corada
Cor
Do vermelho que corre no sangue
Do coração que me falta
Quando coro a face e
Faço poemas desfeitos.

Poemas que faço
Que nascem com força d’aço
Que esmago com um traço
Todos os passos do
Laço que me aperta a garganta.
E desfaço o que faço
Sem saber fazer feitos que
Não fujam aquilo que sou e traço,
E penso e quero
E faço sem o vermelho da face
Que me funde no calor do poema.

Por isso te faço, poema.

Por isso poema que faço
Não receies
Que te não desfaço
Enquanto me apertar o laço na garganta
Sob a face vermelha de sangue
Que me dói em ti.



Joaquim Marques

Um dia bonito

Olha que dia bonito!
Está tudo no seu lugar,
Tudo em harmonia.
O sol radioso, mas comedido,
A luz intensa como é próprio.
As plantas verdes, de um verde viçoso,
Os botões querendo ser flores,
A brisa suave para dar movimento.
O céu azul,
Uma nuvem aqui e acolá
Lá ao fundo o mar azulão
Brilhante, brincalhão.
Não se sente vivalma
Nesta tarde calma.

Os telefones não tocam
As rádios estão desligadas
As televisões apagadas
Até o silêncio ficou mudo.
Só me ouço a mim.
Que dia tão bonito!


Joaquim Marques

sábado, 1 de maio de 2010

I

Pedaços da minha vida:
Momentos
Intervalados de ausências
Que são os pensamentos
Desprovidos de sequência.

II


Há alturas em que nada me preocupa
A não ser esta vontade
De ter uma ideia diferente
Sobre a preocupação do meu pensar.
Sinto então
Um vazio enorme
Dentro do meu ser pequenino
Que tanto sofre com os tormentos do pensar
E nestas alturas
Estranha
Ser o adulto calmo e resolvido
Sem necessidade de se guerrear
Contra as ideias da vida.

III


Não gosto de dar respostas
Às perguntas inoportunas e fúteis
Quando penso sobre mim
E desejo a minha paz egoísta
E legítima
Que me faz sentir eu.

IV


E sobre a forma
Em como exprimo o meu sentir;
E sobre esta maneira minha
De escrever o que penso;
E sobre tudo,
Sobre tudo agora,
Que devo eu corrigir para me agradar?
E sobre os outros,
Devo pensar neles
Nestas minhas interrogações?
E sobre esta minha ânsia
De assim continuar
Igual à interrogação que me julgo;
E sobre a forma de finalizar
A escrita destas ideias
Que por o serem
Não têm fim….




Joaquim Marques