quinta-feira, 21 de agosto de 2008

À Li, ali

Ali, a Li
ficou
aquém de
a quem quis ver longe,
nós vemos ali a Li
diariamente
diária, mente liberta
deliberadamente
pela sua força de vontade.
Aí a Li, ai... ali,
a Li, sozinha, tem-nos por perto!

Joaquim Marques

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Resposta

Ainda não me perguntaram como passei este ultimo mês. Mas tenho pensado nisso, nessa pergunta frívola, nesse recente tempo passado, e na resposta que dada, seria convincente. Ensaiei tantas respostas, revi os passos dados, os poucos. Consegui juntar tudo no malote da minha memória. Ontem decidi-me. Era tempo de responder à pergunta ainda por fazer. Então despejei o malote para dentro de uma arca de vime velho, uma relíquia das minhas viagens pelas ilhas, e fiquei deslumbrado com aquela amálgama de momentos coloridos. Da imensa confusão, ordenei as cores dos pensamentos, as dos actos, as dos desejos, as cores vivas dos sentimentos, as cores das leituras amargas, as cores que me ficaram das escritas ensaiadas, e por fim as cores do quotidiano. Sete conjuntos de cores, foi assim que ordenei o arco-íris do meu ultimo mês. E agora, qual prisma colocado ao contrário, reunindo todas essas cores num único feixe de luz branca, encontrei-me na resposta que te darei. O meu último mês foi branco, como a luz da Lua cheia reflectida no espelho de água da lagoa onde depositei as minhas lágrimas.
Joaquim Marques

domingo, 17 de agosto de 2008

Livro III Poema 63

Milito militante na milícia traficante
drogas alternativas às Luas cheias sucessivas
minguantes presenças queridas
revolução em curso, batalha ganha adiante
austera espera, constante
o tempo dará vazão à silente devoção
nova Lua, em Lua Nova, camarada por opção
vai o deserto secar o mar
do longe se fará perto
é caminho feito a caminhar
entre Luas a passar
quartos crescentes, marés em preia-mar
trafico tráficos revolucionários, reféns antiquários
resgates de abecedários alimentam-me a militância
cheiros de Lua cheia, soltam-se Rosáceas fragrãncias.

Joaquim Marques

sábado, 16 de agosto de 2008

Colegas

“Poema: coisa ou assunto digno de ser cantado em verso”

É a mais barata forma de arte
a mais fácil de expressar
tão fácil que não se ensina
tão comum como comum é tropeçar
em poetas a cada esquina.
Os que mais aprecio são os ditos eruditos
licenciados a licenciar a licença da sua escrita
editada em edição virtual protegida:
umas linhas sobrepostas
umas metáforas imitadas
umas rimas ensaiadas
e lá vai disto: poesias editadas!

“Foge cão que te fazem Barão!
Para onde se me fazem Visconde?!"

Joaquim Marques AC

Nota: às centenas de visitantes, que visitam este meu poema, pesquisando no google "poemas+colegas", quero informar que, este é um poema aos meus colegas. Sobre os seus colegas, faça você mesmo o seu poema. Ainda assim, sou grato pela sua visita.
J. Marques AC

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Livro III Poema 62

...
eu vou indo,
indo e vindo,
vindo e indo...
estou como a chuva e o bom tempo,
a noite e o dia,
intercalo
para não haver monotonia.

Joaquim Marques

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Lusitana Maria

Maria ia
solta, cabelo ao vento
negro, longo, cuidado
regaço apanhado
busto de sereia
ia assim a Maria
em passo apressado
corria
olhava de soslaio
ao piropo malcriado
sorria
lábios carnudos ora abertos ora fechados
ia a Maria rua adiante
pele branca bronzeada
tornozelos de diva cinzelados
parava o trânsito por instantes
Maria corria, sorria
nádegas oscilantes
nada a distraía
braços longos, mão esquerda fechada
a outra aberta sobre o vestido que vestia
lá ia a Maria, de salto alto ia
rua fora, destemida, até o padre se benzia...
Maria parou, olhou
cristalino cintilante
olhar castanho fulgurante
quedou-se no horizonte
Maria sonhava, dia após dia
que Viriato a viesse buscar
a levasse com ele pró outro lado do mar
só a ele, ela se entregaria.

Joaquim Marques

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Livro III Poema 61

Para lá do vazio
sinto que existes
sei que sinto mas duvido disso
e vai ser uma trabalheira imensa
preencher de matéria o vácuo que nos separa
e depois... isso dá-me uma sonolência,
um desejo desesperante de cama
ai... a minha cama
mesmo vazia, conforta-me mais
que a dúvida da tua existência para lá da fantasia.

Joaquim Marques

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O Túmulo

Em mim
o túmulo
protege o sarcófago
com as ossadas da carcaça embalsamada
envolvida num manto de cetim
vermelho sangue
do espírito que se apoderou de ti.

Joaquim Marques

domingo, 3 de agosto de 2008

Livro III Poema 60

Quando nada mais há a dizer
diga-se só o que tem que ser:
que o som do silêncio é sinfónico
audível só a quem sabe.


Joaquim Marques

sábado, 2 de agosto de 2008

Livro III Poema 59

Um passo vem sempre a seguir ao outro
foram concebidos para serem sucedidos.
O anormal não é o passo lateral,
nem o dado à retaguarda,
é antes o passo medido à imagem do passo dos outros.
O teu passo adiante é ímpar, só tu o consegues dar
e é dando que consegues caminhar,
mais além, como mais ninguém.
O ser ímpar duvida sempre
dá passos laterais para equilibrar a caminhada
à retaguarda, corrige a jornada
parado, contempla a estrada
a tida, serve de modelo à ensaiada
mas não há ensaios que preparem os passos futuros.
Não receies, não compares.
Adiante! Faz-te à estrada.


Joaquim Marques

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Livro III Poema 58

Haverá para lá do imaginário
uma pele sedenta de mim
uma carícia infinita como corolário
perfumada de jasmim.

Nem papoilas, nem outras flores silvestres
nem aquelas que me prestes
como o cheiro do alecrim
só quero a uma pele sedosa, sedenta de mim.

Não é querer muito, não é um querer fictício
é a espera de uma vida, uma vida de suplício
mas só assim se sacia o meu desejo
um toque de carícia com perfume sertanejo.

Joaquim Marques