segunda-feira, 30 de junho de 2008

Livro III Poema 44

Passa resignado o Tempo por mim
indiferente ao contador dos tempos, permaneço observador
da transformação que aos outros é imposta
chamam-lhe evolução, eu analiso-a nos ensinamentos da cinemática*:
É como um filme sem fim, projectado numa sala iluminada
onde me entretenho entre um bago de pipoca e um golo de cola
paciente, sorrio às cenas do Tempo, aos seus sons em movimento
faço intervalos, deixo a sala e na escuridão do Tempo embarco no seu movimento
regresso com mais um balde de pipocas
e ali fico sorrido à técnica do Director respeitando o argumento
daquele que foi o fazedor do Tempo
até agora é tudo uma iteração
o Afonso que me concebeu, morreu, e já está de novo em gestação
não sei porque o Tempo que passa não passa de uma repetição
ao que os comuns chamam evolução.
Serei mortal na perspectiva do ser normal
sou antes um adversário do Tempo na perspectiva do meu pensamento.


Joaquim Marques
*capitulo da mecânica que estuda o movimento independentemente das forças que o produzem ou modificam.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Livro III Poema 43

Chegaste vermelha, doce em pleno verão
ficaste ali, pendurada, indiferente à ventania,
e deixaste-te cair quando te toquei com a mão
ficaste na expectativa, és diferente entre iguais
esperaste por mim e não te deixaste cair ao chão
doce fruto que alimentas o meu sonho.

Joaquim Marques

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Livro III Poema 42

Subo na vida a vida aos solavancos
vou andando, deslizando encosta acima
escalada controlada, puxada sei lá por quem
serei só eu? Ou será alguém do Além?
Não receio a visão do fundo,
já lá estive
não me motiva o pico do mundo,
já lá estive
receio é estar aqui,
suspenso.


Joaquim Marques

domingo, 22 de junho de 2008

Livro I Poemas

Luís de Camões
Teve mil razões
Para escrever os Lusíadas.
E os Lusíadas o que tiveram
De Luís de Camões?
E que tenho eu
Com as razões do Camões
E dos Lusíadas?
Eu que não tenho nada,
Vou acabar por ter
Mil razões
Para que o Camões e
Os Lusíadas
Não tenham mais nada
Além das suas razões
Para terem o
Que devem ter.
Joaquim Marques

sábado, 21 de junho de 2008

80 Anos

Pai,
se não tivesses falecido ainda hoje eras vivo
e eu teria tido palavras diferentes para te dirigir
naquele tempo, o óbvio era ter-te sem ter
e este óbvio mata-me sem me deixar morrer.
Pai,
ser pai é um aprender constante no meu viver
é outro tempo, é outra época, é ser sem referências do ter.
Mas meu Pai,
se reencarnar noutro ser faz sentido
gostaria que voltasses ao mundo sendo meu filho
dar-te-ia o mesmo nome e amar-te-ia sem qualquer prurido
comportamento que eu não tive e devia ter tido.

Joaquim Marques AC

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Livro III Poema 41

Longos vão os dias, as noites de sonhos acordados
os meses de intermezzo desta ópera iniciada
ecoam cantos líricos na memória e
abrilhantam a imagem retida no final do primeiro acto
Diva de túnica translúcida vestida, virás um dia buscar-me
enquanto aguardo, do camarote desço ao balcão e à plateia
de olhos esbugalhados abandono-me no
silencioso anfiteatro gigante onde ecoas sorrisos alados.


Joaquim Marques

domingo, 15 de junho de 2008

Livro III Poema 40

Eu quis que à Sorte e ao Azar e ao Destino a comandar,
por uma vez só, os planos lhes saíssem furados.
Percebi-lhes a estratégia, os fins e os métodos
e resolvi contrariá-los.
Instalou-se a discórdia e perderam o norte:
o Destino diz mal da Sorte e este do Azar.
Assim, calmamente, trilho o meu pensar alheio à confusão.
Se aqueles três não se entendem, apesar dos seus poderes,
porque insistes tu em prever, quando me lês e pensas que vês?



Joaquim Marques

sábado, 14 de junho de 2008

Livro III Poema 39

Não me vejas como vês um louco
não sou comum, sou navio à deriva sem apresto
sou tão boa gente, tão bom que não presto
vagueio por aí como animal selvagem num couto
enfrento a tempestade e o arresto
escorre-me o líquido da fortuna pelos orifícios do cesto
vivo tão intensamente morrendo pouco a pouco
ser óbvio é coisa que detesto
se me olhas e queres ver, olha-me no contexto
aceito-te no amor e no desgosto.


Joaquim Marques

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Livro III Poema 38

Fecho-me no meu silêncio
fechado, trancado com um cadeado
e perco a chave, de propósito, para aumentar a minha angústia
é uma encenação ensaiada, como uma prisão de ventre que dói
incomoda até se proporcionar o momento do alívio
tudo pelo prazer de sentir o prazer masoquista
para além do masoquismo da vida que vivo.
Estou doente, sou demente, mas ao ter consciência disso
não me levam a sério, nem me internam, nem se importam
se eu fosse autista de verdade seria muito mau
mas bem pior é quando sou autista a fingir.


Joaquim Marques

terça-feira, 10 de junho de 2008

Livro III Poema 37

O teu amor maduro é puro
tão leal não conheci outro igual.

Joaquim Marques

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Livro III Poema 36

Aquilo que escrevo sobre uma alma vazia
sem chama nem fantasia
em certos momentos de determinados dias
é a resposta coerente que merece o indigente
quando apela à dádiva alheia de mão estendida.
Uma esmola é tanto de nada
não ma peças, não ta dou, deixa que siga a minha estrada
indiligente já eu estou, se partilho contigo pioro o teu castigo
deixa-me alma penada subir aquela escada
ali em cima nem todos me vêm e ninguém me alcança.


Joaquim Marques

domingo, 8 de junho de 2008

Livro II Poemas

Maria!
Maria! Estás a ouvir-me?
Maria! Então!
Maria porque ficas assim?!
Olha, presta bem atenção...
Maria ... que chata!
Maria!
Maria!
Oh meu Deus, Maria ...
Maria fala comigo
Não fiques amuada,
Não te zangues por tudo e por nada.
Vou-me embora Maria
Se é isso que tu queres...
Adeus!

Joaquim Marques

sábado, 7 de junho de 2008

Livro I, Poemas

Todos os dias são diferentes
Porque o é o pensamento das gentes
Porque das ideias se fazem factos
E dos factos o presente
E tudo o que é plural
É diferente.


Joaquim Marques
Angra do Heroísmo
07/10/83

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Glóbulos brancos


Houve um tempo em que só me falavas se te despisse
Mas já conversaste comigo respondendo ao que te disse
Agora fazes-te de desentendida, só queres falar-me por sinais
Desentendido de agora em diante estarei eu, e já não te falo mais.




Joaquim Marques

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Gosto de Ti

Gosto de ti porque me emocionas, choro e não sei explicar. Emocionas-me quando penso em ti, quando te leio, quando me quedo no teu olhar. És a experiência de vida que procurei debaixo da árvore à beira rio, num tempo de mistério e de sonho. Naquela mala vazia, trazia o meu futuro para que tu o fizesses. E lembro-me constantemente da espera que foi aquele outro tempo, em que a emoção era de desespero. Gosto de ti porque me fizeste acreditar que existe um colo de Mulher que ama só por amar. Serás então minha mulher porque não pude ser teu filho.

Joaquim Marques

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Fiel ou infiel

Ser ou não ser
Fiel ou infiel?
Respondo-te com honestidade
Fiel sem exclusividade.

Joaquim Marques

terça-feira, 3 de junho de 2008

Livro III Poema 35

Procuro em mim uma ideia, um fio condutor
E não acho.
Tenho leme, tenho motor, falta-me o mar.
Dizem que é indo rio abaixo
Que nem é preciso me esforçar para o alcançar
Mas eu não acho.
Se eu não acho por não encontrar
Nem acho por não concordar
Porque acham os outros que eu vou achar
Que achando a ideia encontro o mar?

Joaquim Marques

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Impressões VII

Dos fracos não reza a História,
mas rezo eu,
rezo-lhes a cartilha da minha memória
nos atropelos que a vida conheceu
por causa desses seres parasitários.
Desinfecta Maria, desinfecta
mais vale engordar burros a pão de ló
que alimentar o espírito desses seres.

Joaquim Marques

domingo, 1 de junho de 2008

O DAMASCENONECSAMAD O

Ondulam energéticas as saudades

Durante a tua ausência
Aguo o beco todos os dias
Manto purpura de cetim
Alvo deixo o meu pensar
Sonho com o relvado cuidado
Cedo encontro ao fundo da cascata
Escondido nas memórias
Novo sorriso de olhar brilhante
Ondulam energéticas as saudades
Novo sorriso de olhar brilhante
Escondido nas memórias
Cedo encontro ao fundo da cascata
Sonho com o relvado cuidado
Alvo deixo o meu pensar
Manto purpura de cetim
Aguo o beco todos os dias
Durante a tua ausência

Ondulam energéticas as saudades


Joaquim Marques