terça-feira, 20 de maio de 2008

Livro III Poema 31

De que me serve ser detentor
Duma enorme tristeza?
Bastava-me uma pequena parcela
Do género duma quintinha entre vales
Repleta de árvores de folha caduca
Plátanos, carvalhos e castanheiros
Penedos cobertos permanentemente de musgo
Líquenes e cogumelos sempre a desabrochar
Tudo envolvido num suave manto de névoa
Num perene inverno encoberto,
E sempre que me apetecesse ia lá passar uns dias.

A minha tristeza é tão grande, tão grande, que eu ando, ando...
Perco-me em círculos e nunca consigo chegar à estrema
Cansado, retorno ao meu abrigo de pedra
Acendo a lareira e no crepitar da labareda
Encontro-me contigo
No sonho da felicidade em que vives
São tão breves estes momentos de felicidade
Cada vez mais espaçados porque a lenha está a acabar
E poupado como sou só acendo o fogo raramente.


Joaquim Marques