quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 12

Estou naquele momento
em que acabei de chorar
ainda soluço mas o meu olhar já sorri
para Ti
que me deste o ombro sem saberes que o davas
que me deste a mão quando eu ainda olhava para trás
que me apontaste o caminho
que eu nunca pensei ser capaz
de trilhar em paz.
Vamos?

Joaquim Marques

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 11

Nunca fui à feira do queijo da serra
Região demarcada da serra da Estrela
Onde o queijo é feito da mesma maneira
Com regras e procedimentos antigos,
Para que o produto final
Seja genuíno, sempre igual...
Então pergunto-me, o que vou eu lá fazer?
Ver as pessoas diferentes?
Apesar de aquelas gentes
nem todas serem pastores,
refiro-me aos expositores...
Andei pela Internet a ler as poesias
Que por ali se publicam
E fiquei sem vontade de ir à serra da Estrela.

Joaquim Marques

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 10

Quando nada inquieta o poeta
que há em cada um de nós
quando a despreocupação lhe cala a voz
para uma pausa circunspecta
é a tristeza que vem por não se entender a razão
porque é que o poeta fica momentaneamente sem inspiração.
Escreve e apaga palavras sem tino
é um emaranhado de ideias em desalinho
é como andar a cambalear
com o mundo desabando à sua volta
sem sentir forças até para a revolta.
Poeta só do amor, só do belo e do seu esplendor
escriba só do enaltecer
é coisa que alguns não sabem ser
porque o não sentem, nem sonham e por isso não mentem.
Estar poeta em hibernação
é a uma tentação, que acaba em frustração
então
é preferível que venha de novo a inquietação
para que não seja, o poeta, abandonado pela inspiração.

Joaquim Marques

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 9

Estendi a roupa na corda
olhei para o sol amigo, sorriu-me
retribuí
cinco enormes nuvens invejosas
uniram-se com cara feia
olhei para elas com desdém
pedi ao vento que viesse de mansinho
e veio, cortês afastou as nuvens.
Duas horas mais tarde
o sol foi deitar-se
o vento foi com ele
a roupa estava quase seca
a lua ainda não tinha aparecido,
hoje entrava ao serviço mais tarde
fiquei sem astros a quem recorrer
fui ler o boletim meteorológico:
chuvas só para depois de amanhã,
fortes como as da semana passada,
deixei a roupa ao cuidado da lua
fui dormir com o sol
ouvi barulho a meio da noite
chovia que Deus a dava,
era só um aguaceiro forte
a roupa na corda
eu na cama
o sol deitado e a lua em gazeta
as nuvens descarregaram a sua raiva
mas não me importei:
vou deixar ficar a roupa ali, na corda, a lavar com água celeste
de certeza que depois de amanhã vai fazer sol e vento
e o boletim meteorológico voltará a enganar-se
mas a mim não engana mais!

Joaquim Marques

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 8

O Talento

Oitenta por cento de transpiração
e vinte por cento de inspiração?!
O que transpira do talento
não cheira a suor!

Joaquim Marques

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 7

Mãos engelhadas:
as minhas mãos cansadas
calejadas
das carícias feitas às enxadas
usadas
para revolver as terras que me foram dadas
herdadas
do legado
deixado
pelo meu presente passado
também ele cansado
e morto
pelo conforto
do meu sorriso plantado
no meu jardim agora cuidado
finalmente desabrochado
por te ter ao meu lado.

Joaquim Marques

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Conheci um dia
uma Sofia
alta, esbelta, esguia,
sensível, determinada, mas arredia,
a aparência
não me seduzia,
mas na essência...
era assim uma Amiga que eu queria.
Joaquim Marques

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Livro III Poema 6

O que me inspira
na arte da escrita
é esta vontade maldita
de deitar cá para fora
aquele pensamento pendente
que me aperreia constantemente
quando quero ter uma vida normal.

Passeio várias vezes pelas margens do Tejo,
olho, quedo fico atento, obeservo e não te vejo
Musa inspiradora.
No Tejo não vejo a minha Senhora
nem consigo imaginar hoje a ninfa sedutora
que fez inspirar o Camões.
Penso então com os meus botões
porque escrevo poesia?!
Ou seja, estas linhas sobrepostas,
sem nexo, frases que mais parecem anedotas
quando tento imitar os outros
e ganhar um lugar ao lado dos demais:
Poetas normais!

É por isso que o que escrevo
não se classifica como poesia
é antes um alvoroço
de ideias que me sufocam o pescoço
e não me deixar conviver
com a vida comesinha que eu gostava de ter.

Porque tenho então que pensar,
porque me tenho que permanentemente aperriar,
e para não sufocar
escrever estas linhas soltas?
Valha-me alguém intemporal,
alguém que me faça ser um ser normal
e me deixe ficar à beira mar,
a ver as ondas do mar
nos dias de ventania,
e não ver poesia
nas ondas do mar calmo
nem cantar com mais ou menos mestria
a beleza da maresia
porque todos sabemos como ela faz mal.

Tenho a mente corroída
pelo sal desta maresia
que sopra dia após dia
deste mar bravo que se tornou a minha vida.

Joaquim Marques

Livro III Poema 5

Que tem de novo
o ano novo
quando os dias nos parecem iguais?
Que coisa diferente
do novo ano pensa toda a gente
nos murmúrios do inconsciente
quando os anos nos fazem crescer,
a todos envelhecer
até que nem mais ano novo iremos ter?

O ano novo é uma quimera
como se uma vida nova seria
no desejo constrangedor
dos que quedos ficam à espera
de um perdão que lhes apetecia
na fila de um corredor
da morte que certamente viria.

Os anos passam iguais
e o que é preciso é que passem
enquanto formos mortais.

Joaquim Marques