quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Tenho pressa de tudo
e para chegar a tempo contudo
monto-me no tempo do tempo
no seu ritmo calmo e lento.

Não me resta senão esperar
que o transporte no tempo deste tempo devagar
me leve ao destino almejado
antes do tempo do meu tempo ter terminado.


Joaquim Marques

sábado, 27 de outubro de 2007

As minhas energias e pensamentos estão tomando a tua direcção...
O poema agora é o sentir silencioso
que vai nascendo em mim na recordação
das imagens do futuro que me espera...

Está crescendo um diamante nas minhas mãos,
e cresce lentamente, cristal puro, gema após gema,
cresce e eu fico olhando, admirado, e é tão sublime...

Joaquim Marques

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Fumo este cigarro por puro prazer
Como tomei aqueles copos de vinho,
Como bebi a cachaça, taça após taça
Sem me inebriar, sem me constranger,
Como sei que irá acontecer
No dia em que te beijar, sem parar, no teu ninho.

Dizes que me fazem mal, o fumo e a bebida,
Mas não, comparados com a tua sedução atrevida,
Não penso neles a toda a hora
Não é a saudade deles que no meu coração mora.

Joaquim Marques
Finalmente é noite
Acordo para ela
Com o olhar fechado em si
E em mim.
Finalmente é noite
Porque acordo para ela
E para tudo o que for nada.


Joaquim Marques

domingo, 21 de outubro de 2007

Como um guarda florestal
entre o bem e o mal
deste parque ecológico,
guardião dos sentimentos, analista metodológico
observo, acautelo, aviso, sou o martelo
desta estaca, deste poste seguro
que te segura, ata e protege da amargura,
cientista louco, sapiente de tudo um pouco,
deixei-me infectar:
caí na armadilha das areias movediças,
e quanto mais te ensino como se não faz,
mais esperneio e não sou capaz
de me libertar,
ensinei-te como não era e enterro-me sem escapadela
exausto, deixo-me levar
sou teu, engole-me devagar
preserva-me eternamente no âmago da tua paixão.

Joaquim Marques

sábado, 20 de outubro de 2007

Do passado,
De ti nele espelhado
Não tenho a mais leve recordação
Ou se tenho, é coisa pequena.
O meu passado
É recordado pela pobre pena
Quando não se liga à emoção,
E é por isso que alinha linhas sem nexo
Como um pedreiro improvisa um anexo:
Obra definitiva, construída para ser demolida!

Joaquim Marques

domingo, 14 de outubro de 2007

O dia primeiro da minha existência
não aconteceu na data testemunhada,
esse foi um acontecimento irrelevante.
Mas insistem em torná-lo importante
aqueles que não souberam ainda entender
que o dia em que escolhi nascer
foi ontem.
Ontem de madrugada,
foi quando entendi que o tempo de gestação terminou
e nasci para o que sou:
um vagabundo, cidadão do mundo,
um caminheiro, companheiro do sonho,
um mendigo de pensamento atrevido,
um magnata com o coração de prata.
Se algum dia eu morrer, provavelmente irá acontecer
eu só morrer na data desejada
que nada terá a ver com a data esperada.
Sou livre, não entrego a alma ao destino!

Joaquim Marques

sábado, 13 de outubro de 2007

Véspera

Vinde a mim avezinhas
Vinde chilrear junto a mim
Vinde colorir de tons musicais este silêncio bom
Esta candura, este momento de ternura
Este encontro com o desejado,
Esta luz que trespassa este telhado
Que me inunda, envolve, revolve.

Vinde passarinhos da paz
Tragam no bico a semente da primavera
Semeiem em mim, campo fértil em pousio prolongado
Os grãos da seara prometida
E deixem germinar devagar as melodias do vosso chilrear
Neste momento, neste silêncio sedento, neste ansiado advento
Do paraíso sonhado, sem sombras nem complexos acoplados.
Vinde brindar este menino, na véspera da ressurreição.


Joaquim Marques

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

As tuas cartas são afagos no meu coração
provocam o eriçar da pele e uma dor boa, interior e seca
sinto-as tão perto, que desperto da monotonia do suceder dos dias
são como um bálsamo, um óleo de amêndoas doces impregnado em algodão puro
são as alvíssaras do meu futuro
o acalento nas tempestades que enfrento em dias radiosos
o meu rejuvenescer das rugas da memória
é a mansidão que se apega às agruras da vida
e quando as leio e releio dou-as por esquecidas
e acordo deste sono com mais energia
igual à de um bebé depois do banho
e de mamar na mama da mamã.
As tuas cartas são como um acordar de manhã
despreocupado, sorridente, espreguiçado, contente
por ver nascer o Sol só para mim.

Joaquim Marques

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Vou ali e já volto

Amigos
Hoje dia 4 de Outubro completam-se 8 meses de publicações diárias.
São 236 escritos...
Preciso de uma pausa, um sono breve, volto quando acordar.
Até.

Joaquim
Ah é?!
Palavras leva-as o vento?!
Já disse tudo o que tinha a dizer
A partir de agora a minha boca vai-se calar
Só vou comunicar contigo em pensamento
Enganas-te se pensas que me remeto ao silêncio,
Calado é a minha mui nobre arte de comunicar!

Joaquim Marques

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Frenética
A música que ouço
Provoca em mim um não sei quê
Que não posso explicar.
Fluem os dias como a música.
Agitam-se os sentidos
À procura de algo que não sei.
Existiu? Existirá…?
Será que? – ter a certeza
É pior que viver num mundo incerto.
Sinto uma opressão em mim.
Frenética
Esta música que ouço
Faz-me sentir…
Tu não sabes amigo. Não,
Tu nunca gritaste loucura,
Nem ontem, nem hoje, nem…
- Só gritaste…
…Não me compreenderás!
E continua a música,
Frenética,
Desenvolve em mim um ser.
Já não sou seu!
Que terá acontecido? Aconteceu… (?!)
Passo, não passo… passarei?
Não faz mal,
Agora prefiro cheirar a rosa,
Banhar-me a mim e a ela
Na incerteza
Que impera em cada gota de água.
Adoro a água.
E esta música sempre
Frenética.
Faz-me lembrar algo a acontecer:
Notas, notas… notas…
gritai comigo:
Quero ficar aqui, assim
Embriagado na noite,
Bebendo música sempre
Freneticamente
Como ao ritmo que toca.

Joaquim Marques
(do baú)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Aqui sentado
Agarrado à caneta com que escrevo
E ao pensamento que repudio,
Sinto-me como tu –
Ser do universo, esperança do futuro,
Aglomerado de moléculas desintegradas
Desta vida que odeio
E consigo viver.

Joaquim Marques